Iroco era um homem bonito e forte e tinha duas irmãs. Ajé, a feiticeira e Ogboí, uma mulher normal. Iroco e suas irmãs vieram juntos do Orun para habitar no Ayê. Iroco foi morar numa frondosa árvore e suas irmãs em casas comuns. Ogboí teve dez filhos e Ajé um só, um passarinho. Um dia, quando Ogboí teve que se ausentar, deixou os dez filhos sob a guarda de Ajé. Ela cuidou bem das crianças até a volta da irmã. Mais tarde, quando Ajé teve também que viajar, deixou o filho pássaro com Ogboí. Foi então que os filhos de Ogbói pediram à mãe que queriam comer um passarinho. Ela lhes ofereceu uma galinha, mas eles, de olhos no primo, recusaram. Gritavam de fome, queriam comer, mas tinha que ser um pássaro. A mãe foi então foi a floresta caçar passarinhos, que seus filhos insistiam em comer. Na ausência da mãe, os filhos de Ogboí mataram, cozinharam e comeram o filho de Ajé. Quando Ajé voltou e se deu por conta da tragédia, partiu desesperada a procura de Iroco. Iroco a recebeu em sua árvore, onde mora até hoje. E de lá, Iroco vingou Ajé, lançando golpes sobre os filhos de Ogboí. Desesperada com a perda de metade de seus filhos e para evitar a morte dos demais, Ogoí ofereceu sacrifícios para o irmão Iroco. Deu-lhe um cabrito e outras coisas e mais um cabrito para Exu. Iroco aceitou o sacrifício e poupou os demais filhos. Ogboí é a mãe de todas as mulheres comuns, mulheres que não são feiticeiras, mulheres que perdem filhos para aplacar a cólera de Ajé e de suas filhas feiticeiras. Iroco mora na gameleira branca e oferece sua justiça na disputa entre as feiticeiras e as mulheres comuns.
Era uma vez uma mulher sem filhos, que ansiava desesperadamente por um herdeiro. O babalaô lhe disse para ir à árvore de Iroco oferecer um sacrifício. Com panos vistosos ela fez laços e com os laços ela enfeitou o pé de Iroco. Aos seus pés depositou o seu ebó, tudo como mandara o adivinho. Mas de importante preceito ela se esqueceu. O babalaô mandara que nos três dias antes do ebó ela deixasse de ter relações sexuais. Só então, assim, com o corpo limpo, deveria entregar o ebó aos pés da árvore sagrada. A mulher disso se esqueceu e não negou deitar-se com o marido nos três que precediam o ebó. Iroco irritou-se com a ofensa, abriu uma grande boca em seu grosso tronco e engoliu quase totalmente a mulher, deixando de fora só os ombros e a cabeça. A mulher gritava feito louca por ajuda e toda a aldeia correu para o velho Iroco. Todos assistiam o desespero da mulher. O babalawo foi também até a árvore e o jogo que fez revelou sua ofensa, sua oferta com o corpo sujo. Mas a mulher estava arrependida e a grande árvore deixou que ela fosse libertada. Toda a aldeia ali reunida regozijou-se pela mulher. Todos cantaram e dançaram de alegria. Todos deram vivas a Iroco. Tempos depois a mulher percebeu que estava grávida e preparou novos laços de vistosos panos e enfeitou agradecida a planta imensa. Tudo ofereceu-lhe do melhor, antes resguardando-se para ter o corpo limpo. Quando nasceu o filho tão esperado, ela foi ao babalaô e ele leu o futuro da criança: deveria ser iniciada para Iroco. Assim foi feito e Iroco teve muitos devotos. E seu tronco está sempre enfeitado e aos seus pés não lhe faltam oferendas.
Muitos andam pela vida sem rumo
e acabam indo buscar os conselhos de Ifá. Este era o
caso dos ancestrais que buscaram cobrar de Ifá
a promessa feita por Olódùmarè (Deus), que
dava a eles uma vida longa.
Assim Ifá advertiu:
1 - não digam o que não sabem
(èsúrú pode ser tanto uma conta sagrada como um nome de uma pessoa);
2 - não façam ritos que não saibam fazer
(novamente avisa não troquem a conta sagrada pelo nome);
3 - não enganem as pessoas (trocando a pena de papagaio por morcego);
4 - não conduzam as pessoas a uma vida falsa
(mostrando a folha de ìrókò e dizendo que é folha de oriro);
5 - não queiram ser uma coisa que vocês não são
(não queiram nadar se vocês não conhecem o rio);
6 - não sejam orgulhosos e egocêntricos;
7 - não busquem o conselho de Ifá com más intenções ou falsidade
(Àkàlà é um título usado para Òrúnmìlà);
8 - não rompam (não mudem) ou revelem
os ritos sagrados, fazendo mal uso deles;
8 - não sujem os objetos sagrados com as impurezas dos Homens;
busquem nos ritos sagrados somente coisas boas;
10- os templos devem ser lugares puros,
onde a sujeira do caráter humano deve ser lavada;
11- não desrespeitem ou inferiorizem
os que têm maior dificuldade de assimilar conhecimentos ou
deficiências no caráter, ajude-os a mudar;
12- não desrespeitem os mais velhos, a sabedoria está com eles, a vida os fez aprender;
13- não desrespeitem as linhas de condutas morais;
14- nunca traiam a confiança de seu semelhante;
15- nunca revelem segredos que lhe são confiados;
falar pouco e somente o necessário demonstra sabedoria;
16- respeitem os que possuem cargos de responsabilidade maior;
o Babaláwo é um Pai, portanto, é devido grande respeito aos Pais.
Mas os ancestrais não cumprem as determinações de Deus,
trazidas e mostradas por Òrúnmìlà. Deus usa os Òrìsà
para advertir o Homem, mas não obtém sucesso. O Homem
não ouve os conselhos. Mesmo assim, em erro,
o Homem ainda acusa a Òrúnmìla. Mais uma vez não reconhecendo
seus próprios erros.
O Homem tem esse hábito, o de culpar os
outros pelas suas maneiras erradas.
Diante de tais atitudes,
Deus fica desobrigado de cumprir Sua palavra com o Homem,
permitindo então que o Homem morra idoso
e venha a renascer jovem, para que uma nova caminhada
de aprendizados se inicie, em outra vida, em outro lugar,
e quem sabe assim, nessa nova etapa, o
Homem aprenda os mandamentos de Ifá pondo fim a esse ciclo sofrido.
Assim se repetirão esses ciclos, até que o Homem
aprenda a mudar, tornando-se um
Egúngún Àgbà (Ancestral Ilustre) que recebe
funções mais importantes no Òrun (no Além)!
"ATEFUN - apelido de Ifá sábio - Adivinhava o oráculo às 401 divindades, estavam indo ao estado de perfeição, o sábio de ORI "adivinhou" oráculo para ORI; ORI estava indo ao estado de perfeição (ÒDE-ÀPÉRÉ), mandou-lhe fazer sacrifício, SOMENTE ORI, O ÚNICO QUE FEZ, O SEU SACRIFÍCIO FOI ABENÇOADO, portanto ORI é maior que todas as divindades, ORI é mais forte que as divindades, somente ORI chegou no estado de perfeição. O iniciado sacrificou! ORI é forte, mais que os orixás."
Para qualquer Yoruba, a palavra ORI tem uso amplo. ORI num primeiro momento quer dizer cabeça; e simboliza também - o ápice de todas as coisas; o mais alto desempenho, portanto contém o superlativo ou seja o Zénite. Por exemplo, a cabeça é a parte mais alta e mais importante do corpo humano, é a moradia do cérebro que controla o corpo inteiro. O líder ou chefe de qualquer organização é referido como "Olóri" (a cabeça), ORI é cabeça, cabeça é alta, alto é supremo e o ser supremo é ÔLÔDUMARÊ (Deus maior).
No corpo humano ORI se subdivide em duas colocações:
1) a cabeça física - é o crânio humano, onde está o cérebro que usamos para o pensamento e controle das outras partes do corpo; consciente ou inconsciente; os olhos para tudo ver; o nariz para respirar e cheirar; orelhas para ouvir; a boca para alimentar e falar; a língua para saborear; nossa essência masculina ou feminina está na cabeça, o rosto que dela faz parte nos distinguem uns dos outros, imprimindo uma identidade individual; sem a cabeça o homem e mulher seriam como qualquer "X".
2) a cabeça espiritual está subdividida em mais duas partes a saber: Cabeça Espiritual
APARÍ-INÚ (Cabeça espiritual interna) - ORÍ-ÀPÉRÉ (santo pessoal, destino ou parte divina de cada um: escolhido no domínio de ÀJÀLÁ - divindade de ORÍ.
ORÍ-ÀPÉRÉ é acumulação de destino individual; Isto é: ÀKÚNLÈYÀN, ÀKÚNLÈGBÁ e ÀYÀNMÓ.
AKUNLEYAN é a parte do destino que cada um escolhe por vontade (livre arbítrio) própria AKUNLEGBA é a parte do destino o qual está adicionada como complemento de AKUNLEYAN AYANMO é aquela parte do destino que nunca pode ser mudado. Por exemplo - pais, sexo, karma, etc. Mas Akunleyan e Akunlegbá podem ser melhorado enquanto Ayanmó não pode ser modificado . O destino ORÍ-APÉRÉ está escolhido no domínio de AJALÁ (divindade de Orí)
APARI INÚ é de caráter individual, uma pessoa poderia chegar a terra com bom destino, mas, sem boa conduta; A maldade da cabeça espiritual interna danificará definitivamente o bom destino, o inverso também acontece. Porém o "destino" pode ser modificado, numa certa medida, quando certos segredos são conhecidos, dentro de um contexto e conhecimento da Teologia Yorubana.
Contudo ORÍ é o mais importante entre as divindades. Na ordem de importância - o primeiro é Orí; o segundo é a mãe, e se ela tenha morrido, seu espírito; em terceiro lugar é o pai, e se tenha morrido, o seu espírito; em quarto lugar, IFÁ e a seguir, seu orixá e as outras divindades. (Por Gbolahn Okemuyiwa e Awo Ademola Fabunmi - traduzido por: Adélékè Àdìsá Ògún)
Ser humano - somatória - O Criador, o procriador, procriadora e ser procriado.
Para ser adivinhador, no sentido mais elevado é "SER DIVINO", provido de conhecimento e alguma coisa ainda mais misteriosa.
Os dois sinais da divindade humana ou humanidade divinizada são: predições e milagres. Para ser um Profeta é ver ante mão os efeitos; os quais existem causas, ler a luz transcendental; fazer milagres é agir sobre agente universal e sujeitá-lo a nossa própria vontade" Eliphas Levi.
TRADIÇÃO AFRICANA: O VERDADEIRO SIGNIFICADO DE SER ÀBÍKÚ
TRADIÇÃO AFRICANA:
O VERDADEIRO SIGNIFICADO DE SER ÀBÍKÚ
Àbíkú - a palavra já diz tudo: A= Nós; Bi= Nascer; Ku= Morrer [Nós nascemos para morrer]
No Orun, um mundo paralelo que nos rodeia, onde vivem Deuses e Antepassados, palavra facilmente traduzível por Céu, mora um grupo de crianças chamado Egbe Orun Abiku: as crianças que nascem para morrer em curto espaço de tempo, gerando grande sofrimento para as suas famílias. As meninas são chefiadas por Oloiko [chefe de grupo] e os meninos, por Ìyájanjasa [a mãe que bate e corre].
A permanência dos Abiku ou Emere é condicionada a um pacto que fazem na vinda do Orun para o Aiye [a Terra] com Onibode Orun, o porteiro do Céu. Este pacto é cumprido rigorosamente pelos Abiku, e uma criança cujo o acordo for não nascer, realmente não nascerá; outra que combine voltar quando romper seu primeiro dente, terá morte súbita, por acidente ou por doença, horas ou dias após o aparecimento deste dente.
Quando uma criança Abiku nasce, seu par, aquele seu companheiro mais chegado no Orun, começará a interferir em sua vida, atormentando-a, aparecendo-lhe em sonhos, a fim de que não se esqueça de seus amigos do Orun e rapidamente volte para eles, assim que houver cumprido o seu pacto. Várias histórias de Abiku nos são relatadas nos Itan Ifá, pelos odú Odi, Obara, Ejiogbe, Irete-Irosun, Otura-Rete, Iwori-Wosa entre outros (Tradição oral).
IWORI-WOSA
O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar
Não se pode permitir que sua intenção se concretize
Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane)
Que estava vindo do Céu para a Terra
Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte?
Carneiro
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença?
Carneiro
EJIOGBE
O olho da agulha não goteja pus
No banheiro não se põe uma canoa a navegar
Ifá foi consultado para Òrúnmìlà
Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú)
Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú)
Ele não iria morrer logo na flor da idade
O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá
A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram feitos. Eles voltariam ao Òrun quando:
- Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe;
- Casassem;
- Completassem 7 dias de vida;
- Tivessem novo irmão;
- Construíssem uma casa;
- Começassem a andar.
E nenhum queria aceitar o amor de seus pais, e os presentes e mimos seriam insuficientes para retê-los na Terra, e talvez alguns absolutamente não nascessem.
Esta primeira leva de crianças Àbíkú combinaram entre si também roupas, rituais, chapéus e turbantes, tingidos de òsun que teriam valor simbólico de 1.400 búzios e que, se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas, poderiam segurá-las na Terra.
As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú, em Awaiye, e seus pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para alegrar os Àbíkú, que seriam untados com òsun, e não voltariam mais ao Òrun, rompendo assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.
Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que, depois de várias idas e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser conservadas vivas, devido a seus pais terem consultado Ifá e feito os Ebós determinados por Òrúnmìlà, trocando ou acrescentando um nome que os desanimasse de morrer novamente, usando folhas sagradas em fricções nos seus corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú, colocando em seus tornozelos Sawooro , fazendo em seus corpos pequenas incisões, e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado Óndè que seria preso à cintura da criança.
Alguns Àbíkú também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e correntes que não os deixariam fugir para o Òrun. As oferendas eram feitas como recomendavam os Itan Ifá - troncos de bananeira, cabras, galos, pombos, roupas e chapéus tingidos com òsun, alimentos, guizos, búzios, doces, bebidas, a serem entregues no Bosque Sagrado, ou enterrados à margem de um rio, ou soltas nas águas.
Estes Ebós possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam mais.
Porém, se apesar das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e Iyajanjasa insistissem em vir à Terra em busca de suas crianças, e conseguissem levá-las de volta ao Òrun, os pais deveriam marcar seus corpos com cortes, ou mesmo mutilá-los ou queimá-los, para que seus pares no Òrun não os reconhecessem ou aceitassem de volta. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem à Terra e não quereriam mais nascer.
Nas terras de ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois do nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Bàbáláwo e descobre estar dando à luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer inúmeras vezes impedindo-a também de ter filhos normais.
O Bàbáláwo indica a necessidade de Ebó, o uso de folhas, procedimentos estes usados para afastar o Àbíkú, se os filhos da mulher estiverem mortos, e para que ela possa gerar crianças perfeitas. Ou para reter a criança na Terra e romper seu vínculo com o Òrun, mantendo-a viva.
Até que a criança complete nove anos, sempre próximo à data do seu aniversário, determinadas oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar dezenove anos.
A criança deverá usar roupas especiais, com enfeites e cores específicas, seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule sua volta ao Òrun.
Guizos em quantidade devem ser presos a seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso, pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu.
A fava Éerù, no Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás, pacificando a criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la.
As folhas são usadas em fricções ou banhos, e com elas é feita a mistura mágica com a qual se protege a criança e se prepara o amuleto, que o Àbíkú carregará por toda a sua vida.
O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas, para que ela não atraia uma nova criança Àbíkú.
Se a mãe tiver também problemas com Egbe, chamada Eleeriko, uma deusa considerada o feminino de Egungun, que atormenta as crianças, marcando-lhes o corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbe, entregando-lhe cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia. Também um altar com símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitas festas com sacrifícios de animais, tambores e dança.
Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbe que também pode dar filhos às mães que a louvam.
Há alguns Orìkí de Egbe que demonstram bem esta ligação. Este que damos a seguir é de Ibadan, e é uma súplica para que Egbe envie crianças sadias que não sejam Àbíkú ou Emere.
Mãe, proteja-me, eu irei ao rio
Não permita Emere seguir-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança amaldiçoada siga-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança estúpida siga-me em casa
Olugbon morrei e deixou filhos atrás dele
Arega morreu e deixou filhos atrás dele
Olukoyi morreu e deixou filhos atrás dele
Eu não poderei morrer sem deixar filhos atrás de mim
Eu não poderei morrer de mãos vazias, sem descendentes [1].
No Brasil, porém, o termo Àbíkú, dito "Abikum" tem significado totalmente diverso. A mãe que entra grávida para o processo de iniciação, dá a luz à uma criança que já nasce "feita pronta", sem necessidade da tonsura ritual. Quando esta criança completa sete anos, sacrifícios são feitos para seu Òrìsà, sua cabeça é recoberta por uma cabaça antes que o sangue seja derramado, pois sobre a cabeça de uma criança "Abikum" o sangue não deve correr.
Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsà, a ela estarão vetadas a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. Ao mesmo tempo, ela já nasce com um posto honorífico, o de "feita sem ter sido raspada", e é tido com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la.
Dizem também alguns sacerdotes que as crianças que nascem em datas determinadas são "Abikum". E, sendo assim, pais e mães ambiciosos, programam seus filhos para que nasçam nestes dias, e até mesmo operações cesarianas são realizadas, para adequar a chegada ao mundo das crianças às datas de nascimento apropriadas para "Abikum".
O modo de encarar a pessoa "Abikum" muda de casa para casa, podendo ser acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação.
Os pais e mães de Òrìsà brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú, uma vez que estes nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá, elas nascem em todo o mundo e no Brasil também. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser realizado dentro da problemática Àbíkú.
Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa tem a mesma crença nos Àbíkú, embora dêem à eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama. Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta. Os Akan denominam a mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah.
Famílias que já perderam um ou mais filhos, tendem a buscar na religião um consolo e uma explicação para estas mortes, e é dever da Tradição de Òrìsà e do Candomblé Ketu, estar apta para oferecer, além de um amparo religioso que diminua o sofrimento dos pais, uma solução para que tal tragédia não mais ocorra.
Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução de um excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia no 14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, Oruko Àbíkú, folhas e Ofo do qual farei citações literais mais adiante.
Outros autores africanos, franceses e ingleses falam sobre o assunto, em considerações superficiais ou profundas, mas suas publicações não estão disponíveis para a quase totalidade do sacerdócio brasileiro.
O fato de não possuirmos no Brasil local determinado, como a Floresta Àbíkú de Awaiye, não nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas das famílias das crianças Àbíkú.
Tomando por base as recomendações do Itan Ifá, um Ebó poderá ser montado com um pedaço de tronco de bananeira, roupas e gorros tingidos de òsun e bordados de guizos e búzios, pratos com comidas [Iyan; Akara; Ekuru; Eko; Doces; Canjica; Frutas; Mel; Guizos; Bebidas; Animais; Cabra; Pombo; Galo; Folhas].
As roupas serão colocadas nos galhos das árvores, as comidas e oferendas ao redor no chão, ou monta-se um carrego como para a morte, embrulhado em pano branco, que será enterrado ou solto nas águas de um rio.
Não é necessário o uso de palavras, pois só o fato dos pais saberem qual o significado da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebó.
Nada porém dever ser feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em nossas dificuldades e dúvidas.
As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para fazer fricções no corpo, ou na feitura de pós mágicos que serão esfregados nas incisões no corpo e rosto dos Àbíkú, e na confecção de amuletos (Onde) ou para banhos rituais,
Cada folha tem sua frase mágica, chamada Ofo, que aumenta seu poder de atuação no Ebo.
Cito aqui textualmente os Ofo escritos por Pierre Verger:
Ewé Abirikolo, insinu Òrun e§ pehinda.
(Folhas de Abirikolo, coveiro do Céu, voltai)
Ewé§ Agidimagbayin, Olorum maa ti kun, a a ku mo
(Folha de Agidimagbayin, Olorun fecha a porta do Céu para que não morramos mais)
Ewé Idi l'ori ki ona Òrun§ temi odi
(Folha de Idi, dizei que o caminho do Céu está fechado para mim)
Ewé Ija Agbonrin§
(Não ande pelo longo caminho que conduz ao Céu)
Ewé Lara Pupa ni osun a won Àbíkú§
(A Folha de Lara Vermelha é o cânhamo dos Àbíkú)
Olubotuje ma je ki mi bi Àbíkú omo§
(Olubotuje não me deixe parir filhos Àbíkú)
Opa Emere ki pe ti fi ku, yio maa eu ni, nwon ni,§ nwon ba ri Opa Emere
(Vara de Emere não os deixe morrer, isto lhes agrada, ver a Vara de Emere) [2].
As crianças Àbíkú devem, no sétimo dia a partir do nascimento, se forem meninas, ou no nono dia, se forem meninos (se for o caso de gêmeos, o dia certo é o oitavo) passar pelo ritual de Ikomojade, quando recebem um nome específico que desestimule sua volta ao Òrun. Nesta cerimônia são usados: água, dendê, sal, mel, obì, peixe, gin, ataare.
NOMES ÀBÍKÚ
OMOLABAKE - Esta é uma criança que eu mimarei.§
Kujore - Deus§ poupou este aqui.
Siwoku - Pare de morrer. Tire as mãos da morte.§
§Kalejaye - Sente-se e goze a vida.
Omotunde - A criança voltou.§
Maku -§ Não morra.
Kikelomo - Crianças são feitas para serem mimadas.§
Moloko -§ Não tem mais enxada para enterrar.
Ayedun - A vida é doce.§
Os nomes Àbíkú negam a morte e contam a doçura e a alegria da vida. Contam também como a Terra é bela e boa para se viver. Deve-se sempre chamar a criança por este nome, que pode ser incorporado oficialmente ou não aos seus outros nomes e sobrenomes. Isto também ajuda no rompimento do vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.
Como a descoberta do pacto é algo difícil, sempre próximo ao dia do aniversário da criança, até que esta complete 19 anos ou pelo prazo que o Ifá determinar, devem ser feitas oferendas nos locais sacralizados, acompanhadas ou não de Ebo a Egbe Eleriko.
Para Òrìsà Egbe se colocam, em uma grande cabaça, os seguintes elementos: Ovos; Akasa; Iyan; Akara; Eba; cana-de-açúcar; Obi; Éerù, Ekodide; Bananas; Àádun; Doces - em um número de 1 ou 6. Esta cabaça é fechada, colocada em um saco e solta num rio, com acompanhamento de rezas e cantigas,
REZA (DE IBADAN)
Egbe. a afável mãe, aquela que é apoio suficiente para aqueles que a cultuam.
Aquela que veste veludo, a elegante que come Cana-de-açúcar na estrada de Oyo.
Aquela que gasta muito dinheiro em óleo de palma.
Aquela que está sempre fresca e tem fartura de óleo com o qual ela realiza maravilhas.
Aquela que tem dinheiro para o luxo, a linda.
Aquela que sucumbe à seu marido como à uma pesada clave de ferro.
Aquela que tem dinheiro para comprar quando as coisas estão caras [3].
CANTIGA [DE LALUPON]
Por favor, use um Oja.
O Oja é usado para atar as crianças em nossas costas.
Eu posso cultuá-la todo o quinto dia.
A Mãe Egbe que mora entre as plantas.
Dê-me meus próprios filhos.
Eu posso cultuá-la a cada cinco dias [3]
Os Àbíkú não são como querem certos autores ou sacerdotes, seres maléficos, que tem por "missão" causar sofrimento às suas mães.
Eles carregam consigo, por causa de seu constante morrer/renascer, o peso de Iku, a morte, e são seres divididos entre a vontade de ficar na Terra com suas famílias e o desejo e a obrigação de retornar ao Egbe Òrun.
O Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, tenho verificado que uma criança é Àbíkú, deve estar preparado para contornar a natural reação dos familiares, de medo, susto, repulsa e mesmo horror, porque a primeira impressão de pais não habituados ao assunto, é crer que o sacerdote coloca seu filho em uma classificação espiritual de maldade e perversão. Também o risco iminente de uma morte súbita apavora a família que tende a reagir com agressividade ou incredulidade, e quer garantias infalíveis e imediatas que isso não é verdade, por quaisquer meios.
Portanto, é necessário que se explique aos pais o problema, e que se dê ao mesmo tempo soluções adequadas, que se cite casos e exemplos, naturalmente sem falar em nomes ou detalhes desnecessários, a fim de que os familiares concordem em ser totalmente esclarecidos e orientados para uma solução definitiva. Explicar também que oferendas "podem" reter o Àbíkú na Terra, se feitas corretamente, mas antes que tenha sido o pacto identificado e rompido, a oração e a crença profunda nos Òrìsà é de grande valia.
Mães que já tenham perdido filhos Àbíkú devem ser avisadas da necessidade de oferendas para que o Àbíkú não volte a nascer de seus corpos e elas possam dar à luz crianças normais.
Por vezes o nascer e morrer inúmeras vezes de uma criança pode abalar física e psiquicamente a Mãe e recursos médicos e terapêuticos "nunca" devem ser abandonados.
Pelo contrário, sua utilização deve ser incentivada, em combinação com o tratamento espiritual.
Os pais não devem considerar isso com "castigo", "karma", "feitiço" ou outras explicações engendradas pela falta de conhecimento.
Para isso o sacerdote deverá esclarecê-los e pacificá-los com a solidez e peso de seus argumentos.
Assim, no Brasil, como nos países Yorùbá, a problemática Àbíkú será contornada e menos pais serão vítimas de sofrimento causado pela morte de seus filhos.
Exú pode ser o mais benevolente dos Orixás se é tratado com
consideração e generosidade.
O ARQUÉTIPO DE EXÚ
Os filhos de Exú possuem um caráter ambivalente, ora sãopessoas inteligentes e compreensivas com os problemas dosoutros, ora são bravas, intrigantes e ficam muito contrariadas. Aspessoas de Exú não têm paradeiro, gostam de viagens, de andarna rua, de passear, de jogos e bebidas.
Quase sempre estão envolvidas em intrigas e confusões. Guardam
rancor com facilidade e não aceitam ser vencidas. Por isso para
ter-se um amigo ou filho de Exú é preciso que se tenha muito jeito e compreensão ao tratar-se com ele.
A LENDA
Conta a lenda que houve uma demanda entre Exú e Oxalá para que pudesse saberquem era o mais forte erespeitado, e foi aí que Oxalá provou a sua superioridade pois, durante o combate, Oxalá apoderou-se dacabaça de Exú a qual continha o seu poder mágico transformando-o assim em seu servo.
Oxalá então permitiria que Exú a partir de então recebesse todas as oferendas e sacrifícios em primeiro
lugar. A Importância de Exú é
fundamental, uma vez que ele possui o privilégio de receber todas as oferendas e obrigações em primeiro
lugar, nenhuma obrigação deve ser feita sem primeiro saudar a Exú.
É o dono de todas as encruzilhadas e caminhos, é o homem da rua, quem guarda a porta e o portão de nossascasas, quem tranca, destranca e movimenta os mercados, os negócios, etc. Exú também nos confirma tudono jogo de IFÁ (Búzios).
Lenda
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam secos e a chuva nãocaia. As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores.Nenhum Orixá invocado escutou suas queixas e gemidos.
Aluman decidiu, então, oferecer a Exú grandes pedaços de carne de bode. Exú comeu com apetite destaexcelente oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Exú tevesede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha, e que tinham, em suas casas, osvizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!
Exú foi á torneira da chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu nodia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos deAluman cantaram sua glória:
Ele é o Senhor da guerra, indomável e imbatível defensor da lei e da ordem, defende os fracos e os que estão em demanda. Foi Ogum quem ensinou aos homenso trabalho com ferro e aço. Seus instrumentos, além da espada são: alavanca, machado, pá, enxada, faca, etc. Com os quais ajudou os homens a dominar à natureza e a transformaá-la. No sincretismo Ogum é associado a São Jorge, 23 de Abril. Como está sempre ligado ao poder e a força, este Orixá não gosta de Ter suas ordens desobedecidas. Quando não é atendido fica irado e perde a razão e castiga àqueles que o desobedeceram, arrependendo-se depois. A cor de Ogum é o vermelho, mas pode ser associado ao verde. Sua bebida é a cerveja branca, seu dia da semana é a terça-feira. Este Orixá foi casado com Iansã, a Orixá dos ventos, que fugiu com Xangô. Também foi casado com Oxum, a Orixá da água doce, que abandonou Ogum para se casar com Oxossi, o Orixá das matas. Ogum também é considerado o Senhor dos caminhos. Ele protege as pessoas em locais perigosos, dominando a rua com o auxílio de Exu, seu irmão e rei das encruzilhadas e dos cemitérios. HistóriaConta uma lenda que ao chegar a uma aldeia Ogum ficou furioso. Ele falava com as pessoas, mas ninguém o respondia. Isto aconteceu sucessivas vezes, e sempre que se dirigia a um morador da aldeia só tinha silêncio. Ele achou que as pessoas da aldeia estavam zombando dele e num ato de fúria usou seu poder e matou a todos que ele pensava estarem o humilhando. Um dia ao passar por outra aldeia ele contou a um ancião o ocorrido e este lhe disse que na aldeia por onde Ogum passara as pessoas, naquela época do ano, faziam um voto de silêncio por alguns dias. Ao saber disso ele ficou enfurecido consigo e envergonhado, jurou proteger os mais fracos e todos aqueles que estivessem sofrendo injustiças, discriminações e qualquer tipo de perseguição injusta. As pessoas de OgumSão pessoas determinadas e com vigor e espírito de competição. Mostram-se líderes natos e com coragem para enfrentar qualquer missão, mas são francos e, às vezes, rudes ao impor sua vontade e idéias. Arrependem-se quando vêem que erraram, assim, tornam-se abertos a novas idéias e opiniões, desde que sejam coerentes e precisas. As pessoas de Ogum são práticas e inquiétas, nunca "falam por trás" de alguém, não gostam de traição, dissimulação ou injustiça com os mais fracos. Alguns Pontos Cantados de Ogum.Lá no Humaitá Aonde Ogum guerreou Lá em alto Mar Aonde Iemanjá lhe coro-ou O Beira-Mar auê, Beira-Mar O Beira-Mar auê, Beira-Mar (Viva Ogum Beira-Mar) O Beira-Mar auê, Beira-Mar O Beira-Mar auê, Beira-Mar Ogum já jurou bandeira Nos campos do Humaíta Ogum já foi a gurerra Vamos todos saravá O Beira-Mar auê, Beira-Mar O Beira-Mar auê, Beira-Mar (Viva Ogum Beira-Mar) O Beira-Mar auê, Beira-Mar O Beira-Mar auê, Beira-Mar
Se meu Pai é Ogum, Ogum Vencedor de demanda Quando chega no reino é para salvar filhos de UMBANDA Se meu Pai é Ogum, Ogum Vencedor de demanda Quando chega no reino é para salvar filhos de UMBANDA Ogum, Ogum Iara Ogum, Ogum Iara Salve os campos de batalha Salve as sereias do mar Ogum, Ogum Iara